segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Os 7 erros dos pedestres, segundo Mirna Bom Sucesso

Os 7 erros dos pedestres

Parecidos com alguns motoristas, eles abusam nas infrações
Texto: Mirna Bom Sucesso

Cada um se vira como pode no dia de rodízio. De minha parte, tenho feito um rodízio de tentativas, mais como objeto de estudo que de necessidade: um dia de ônibus, outro de metrô, outro de bicicleta, semana que vem a pé; na outra, carona com o Zé aqui da WebMotors e por aí vai.Em dois meses de estudo foi possível concluir, sem medo de julgamentos precipitados, que as situações de trânsito se repetem em quaisquer outros meios de transporte em que haja dois humanos ou mais.Os primeiros meios analisados foram metrô e ônibus. Que riqueza de barbaridades! Fiz um esforço para selecionar apenas 7 erros que podem revelar o quanto pedestres e motoristas são parecidos no trânsito urbano. A saber:1. Fechadas e ultrapassagensNo metrô, há faixas no chão que sinalizam onde as portas do veículo irão abrir. (Para quem nunca viu, funciona como as faixas das ruas e avenidas). Adianta? Não.Quem fica certinho na fila se sente o bobo da corte quando, sem mais nem menos, alguém fingindo olhar o infinito – isto é, ignorando a sua existência – entra bruscamente na frente e ultrapassas pela direita e pela esquerda, ao mesmo tempo. Você é obrigado a frear no risco do vão entre plataforma e porta. A campainha soa. A porta se fecha. Resta esperar o próximo trem.No ônibus, fora dos terminais (onde, milagre, a fila é mais obedecida!), forma-se uma bolinha de gente na porta. O mais desesperado para entrar é aquele que, esperançoso por um banco vazio, um espaço em pé privilegiado, invariavelmente fica travado na catraca. Como diz um amigo meu, “no mínimo está pagando a passagem com cheque ou “fazendo terapia com o cobrador”. Moral da história: os últimos serão os últimos; os primeiros serão os primeiros.2. Não respeitar a preferênciaUltrapassado o primeiro ato guerreiro de entrar no transporte, eis o próximo desafio: ser ético. Devemos resistir à solicitação do corpo, que luta contra a gravidade, e não sentar nos assentos reservados aos idosos, mulheres com criança ou portadores de necessidades físicas especiais. Algo como respeitar a preferência do outro carro mesmo quando não há outro carro.Sempre há um sujeito fora dessas condições que se senta. Ah! Os outros passageiros trocam olhares, cúmplices de uma revolta silenciosa. Mas a audácia não para por aí: na ameaça de entrar um velhinho, imediatamente o fulano é acometido por um sono fulminante e dorme, quase ronca para dar credibilidade à cena.Moral da história: em tempo de goiaba é duro não ser bicho de goiaba.3. Andar na contramãoTão grave quanto se defrontar com um carro na contração é pegar o metrô em estações que as portas abrem dos dois lados: deve-se entrar por um, descer pelo outro. Por alguma vantagem insignificante, há sujeitos que teimam entrar pela saída. O resultado é uma disputa olímpica da qual não se sai com os cabelos em ordem, nem a roupa ajeitada.Outra: os folgados que ocupam dois bancos: um com a pessoa dele, outra com as sacolas dele. As sacolas se cansam, coitadas. Ainda que apareça um corajoso para questionar, o sujeito raramente muda de idéia.Moral da história: se folgado voasse a gente não conseguiria ver o sol.4. Falta de sinalização Você se prepara para esbravejar contra a barbeiragem do motorista que zigue-zagueia na sua frente, freia sem necessidade, pára na ameaça do sinal amarelar etc. Quando se aproxima, vê que ele é a vovozinha do desenho do Piu-Piu. Pois é.No transporte público, os constrangimentos começam quando você dá graças a Deus por conseguir acomodar-se com suas tralhas no assento. Aproxima-se uma mulher entre 25 e 35 anos. Ela usa uma dessas batas da moda que transformam sua barriga em um enigma, algo entre grávida e gordinha. O que fazer? Já imaginou oferecer o assento a uma mulher acima do peso? É responsabilizar-se por um suicídio ou homicídio. Tão grave é fazer o oposto: não oferecer o banco à grávida. Minha solução: finjo que vou descer e me levanto.Moral da história: consciência tranqüila é o melhor remédio contra insônia.5. Avançar o sinal vermelhoA leitura coletiva no ônibus se assemelha àqueles que te pedem informação com o carro em movimento. Você não sabe se atrapalha o tráfego e dá a informação ou acelera deseducadamente e deixa o sujeito perdido.No ônibus ou metrô nem todos estão acompanhados de um bom livro ou jornal. Logo, lêem o seu. Certa vez, eu lia A casa dos Budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro. Depois de algumas páginas picantes, meu vizinho de assento jogou o número do telefone dele em meu colo e se levantou. Na surpresa, empurrei o papel como se fosse um bicho. Moral da história: quem lê o que quer, ouve o que não quer.6. Andar pelo acostamentoExiste algo mais revoltante que assistir aos espertinhos trafegando pelo acostamento na volta do feriado?Há um equivalente: o sujeito (acontece mais com as mulheres) que puxa assunto com o motorista com a segunda intenção de não pagar a passagem. O camarada fala e fala, enquanto o motorista dirige igual a uma lesma, esquece de abrir a porta para quem vai descer, pára no ponto vazio e coloca a vida de todos em perigo.Moral da história: falar é prata, calar é ouro.7. PedágioEsqueceu de comprar um presente? Não há problema. Os semáforos oferecem todo tipo de produto e espetáculo. No ônibus não é diferente: a cada ponto, entra um mercador. A exemplo dos que colocam balas no retrovisor do carro, alguns lhe empurram guloseimas, canetas e bilhetes com textos tão antigos quanto a situação do pedinte: o remédio para doença incurável, ajudinha para mulher que está grávida há 15 meses, ex-drogados que preferem pedir do que te roubar etc. Nesta última, quando parece mais ameaça que convite, prefiro não correr o risco.Moral da história: jacaré que fica parado vira bolsa.Ficou desanimado em pegar ônibus ou metrô no rodízio? Por quê? Não muda quase nada! Em sua próxima viagem, entretanto, não se esqueça de observar as outras leis do trânsito. O sucesso da chegada depende delas

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