Fabrícia Peixoto
da BBC Brasil, em Brasília
Navios e aeronaves do Brasil e da França continuam as buscas por destroços e vítimas do acidente com o voo AF 447 da Air France, que caiu no último dia 31 de maio no oceano Atlântico enquanto seguia do Rio de Janeiro para Paris.
Segundo a companhia aérea, 228 pessoas de 32 nacionalidades estavam a bordo do avião no momento do acidente, sendo que 58 eram brasileiros. Os primeiros corpos de vítimas foram resgatados do mar no último final de semana e destroços da aeronave também estão sendo recolhidos pelas autoridades.
Além disso, também foram recuperados do mar objetos pessoais das vítimas, como computadores e mochilas, que também serão analisados.
Apesar de as buscas estarem sendo coordenadas pelas autoridades brasileiras, as investigações sobre as causas do acidente serão feitas por autoridades francesas, como determina a Convenção de Aviação Civil Internacional.
Confira abaixo algumas questões sobre o acidente com o Airbus da Air France.
Como estão sendo feitas as buscas?
Segundo os Comandos da Marinha e da Aeronáutica do Brasil, as buscas estão concentradas nos locais onde foram encontrados os corpos.
Atualmente, os trabalhos de localização de corpos e destroços já estão sendo feitos a cerca de 1.350 km de Recife, uma distância maior do que a de São Paulo a Porto Alegre. Correntes marítimas e fenômenos meteorológicos dificultam os trabalhos das equipes.
No total, cinco embarcações da Marinha brasileira e uma fragata francesa participam dos trabalhos de buscas, assim como 12 aeronaves brasileiras e duas francesas.
O governo francês solicitou autorização para que dois rebocadores de alto mar entrassem em águas brasileiras. Estas embarcações devem chegar ao local nos dias 12 e 18 de junho para auxiliar nas buscas por destroços.
Além destas embarcações, o submarino nuclear francês Émeraude, o navio de pesquisa Porquoi Pas e o navio anfíbio Mistral também já estão a caminho das áreas de buscas.
Segundo o diretor do Departamento de Controle do Espaço Aéreo, brigadeiro Ramon Cardoso, a prioridade das equipes é a localização de corpos.
Os destroços que estão sendo recolhidos devem ser levados em um momento ainda não determinado para Recife, para serem entregues às autoridades francesas, que farão as investigações do acidente.
Devido às correntes marítimas, alguns dos corpos estão sendo levados para o norte da área onde se presume que aconteceu o acidente. Por este motivo, a área de buscas foi ampliada pelas autoridades.
De acordo com os militares brasileiros, buscas devem começar a ser feitas também em águas que pertencem ao Senegal.
O que está sendo feito com os corpos encontrados?
Até a noite desta terça-feira, as autoridades brasileiras confirmaram terem encontrado 41 corpos de vítimas do acidente. Os cadáveres são encaminhados para uma base instalada no arquipélago de Fernando de Noronha, onde são submetidos a análises preliminares pela Polícia Federal.
Depois disso, eles serão encaminhados de avião para Recife, onde passarão pelo processo de identificação no IML (Instituto Médico Legal).
Os primeiros corpos encontrados devem chegar a Recife ainda nesta quarta-feira. Todos os corpos que forem localizados, independente da nacionalidade da vítima, serão levados primeiramente para a capital pernambucana para identificação.
Não foi informado qual o estado dos corpos que foram encontrados.
É possível encontrar sobreviventes?
Embora esta possibilidade não tenha sido desconsiderada oficialmente, as autoridades brasileiras têm frisado nos últimos dias que as buscas estão concentradas na localização de "corpos".
O presidente da Air France, Pierre-Henri Gourgeon, também pediu que as famílias "não tenham esperança" em encontrar sobreviventes.
O tempo transcorrido desde o acidente torna a existência de sobreviventes cada vez mais improvável.
Havia tempestades naquela região no momento do acidente?
Sim. Nessa época do ano, é comum a formação de tempestades na área, conhecida como Zona de Convergência Intertropical.
Imagens de satélite mostram uma intensa atividade climática ao norte de Fernando de Noronha na noite de 31 de maio, com até 18 quilômetros. Nessa altitude, é comum a formação de gelo (granizos), em vez de chuva.
Aeronaves como o Airbus podem "perceber" uma tempestade com até 30 minutos de antecedência. Mas, segundo especialistas, o equipamento identifica a água ou vapor, e não o gelo. Por isso, é possível que os pilotos não tenham tido tempo de desviar da tempestade.
Essa pode ser a principal causa do acidente?
A tempestade é um fator importante e está sendo considerada pelos investigadores. No entanto, especialistas afirmam que um avião do porte do Airbus dificilmente cai em função de uma tempestade, ainda que seja atingido por um raio.
De acordo com a Aviation Safety Network, desde 1973 apenas 73 acidentes tiveram suas causas ligadas a fortes turbulências.
O ideal, segundo pilotos, é tentar escapar da área de tempestade. Para isso, podem fazer desvios, mudar a velocidade ou a altitude da aeronave.
As autoridades francesas admitiram que as causas do acidente "possivelmente" nunca serão conhecidas. A localização das caixas-pretas é muito difícil em função da profundidade do mar.
Que outras possíveis causas já foram levantadas?
Além da forte tempestade, diversos outros fatores e possibilidades estão sendo considerados. Uma delas é de que a pane elétrica tenha sido causada por uma falha na aeronave.
O mesmo modelo de aeronave, operado por outra companhia, sofreu duas panes elétricas recentemente.
Houve questionamento sobre a possibilidade de eventuais falhas nos sensores de velocidade da aeronave terem causado o acidente. A Air France anunciou que irá "acelerar o programa de troca dos sensores de sua frota de A330 e A340".
As informações seguem desencontradas. Um piloto da companhia aérea Air Comet, que fazia a mesma rota naquela noite, afirmou ter visto um "clarão forte e intenso" caindo sobre o mar.
Os pilotos informaram algum tipo de problema durante o voo?
Não. Segundo o Comando da Aeronáutica, não há registro de mensagens de alerta entre os pilotos e o controle de tráfego aéreo brasileiro. A comunicação seguia normal e, inclusive, houve um contato às 22h33, por rádio, com o Centro de Controle (Cindacta 3).
No entanto, às 23h20, a aeronave deveria fazer mais um contato, o que não aconteceu. Pouco antes, às 23h10, o avião começou a enviar uma série de mensagens automáticas à companhia aérea, segundo a revista especializada Aviation Herald. Os sinais indicavam pane elétrica e despressurização.
Áreas muito distantes das costas em geral não são cobertas por radar. Mas os pilotos podem fazer a comunicação por rádio. Há ainda uma outra possibilidade, que é a transmissão de um sinal para outras aeronaves que estejam trafegando pela região.
No entanto, nenhuma das duas possibilidades foi utilizada pelos pilotos, o que pode sugerir, por exemplo, que os pilotos não tiveram tempo ou que algo não funcionou.
Quais as chances de se encontrar a caixa-preta?
A caixa-preta armazena informações que podem decifrar o mistério do acidente, como por exemplo, as conversas na cabine de comando.
As autoridades francesas, no entanto, disseram ser "quase impossível" encontrá-la, em função da profundidade do mar, da extensão da região e da irregularidade do terreno.
O governo francês enviou dois minissubmarinos científicos à região, que são especializados nesse tipo de busca. O Brasil não dispõe do equipamento.
Sem a caixa-preta, a investigação sobre as causas pode durar anos e, ainda assim, não ser conclusiva.
As caixas-pretas têm um mecanismo que emite sinais de localização mesmo a 4,3 mil metros abaixo da superfície da água. Não se sabe, porém, se a caixa-preta --mesmo que encontrada-- sobreviverá à pressão das profundezas.
A esperança é de que os destroços encontrados possam ajudar a explicar o acidente, caso a caixa-preta não seja localizada.
Colaborou a redação da BBC Brasil em São Paulo
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