DESCANSO (SC) - Um duplo acidente deixou 27 mortos e pelo menos 100 feridos, na noite de terça-feira, em Santa Catarina. Foi a maior tragédia rodoviária do Estado desde 2000, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Cerca de duas horas depois da colisão de um ônibus com uma carreta, uma outra carreta, aparentemente sem freios, furou barreiras, arrastou 15 carros e atingiu equipes de resgate, imprensa e curiosos que lotavam a BR-282, na altura de Descanso. Entre os mortos estão três jornalistas e quatro bombeiros. O motorista Rosinei Ferrari, que causou o segundo acidente, deve responder por homicídio doloso (intencional). Há outras 15 vítimas internadas em estado grave.
"Fomos socorrer com cordas os sobreviventes", relatou o motorista Renato Sehn. Segundo ele, o resgate enfrentava dificuldades pelo fato de ocorrer em um trecho montanhoso, sem aparelhos de emergência nem sinal de celular. Foi necessário utilizar o equipamento do cinegrafista da RBS TV Chapecó Evandro Troian para iluminar a área. Todos foram surpreendidos pela carreta desgovernada. "Quando ouvimos foi aquele estouro, não teve nem sinal de buzina nem de freada. A carreta veio levando (carros e caminhões). Saí correndo e a carga me atropelou", afirmou o motorista Adair Bernardi.
O acidente que deu início à tragédia ocorreu por volta de 19h30, quando um ônibus com trabalhadores rurais de São José do Cedro (SC) foi atingido por uma carreta de grande porte de Frederico Westphalen (RS), carregada de soja, que tentou uma ultrapassagem pela contramão. Com a colisão, os dois veículos caíram em uma ribanceira e pegaram fogo. Morreram os motoristas dos dois veículos e cinco passageiros.
A PRF chegou rapidamente ao local e instalou bloqueios e sinalização, para facilitar a ação das equipes de socorro. O delegado Rodrigo César Barbosa, que estava no plantão em Maravilha, cidade a 30 quilômetros do local, também atendeu a ocorrência. Por volta das 21 horas, quando quase todas as vítimas da primeira colisão já haviam sido retiradas dos escombros e um guincho levantava o ônibus de bóias-frias, ele viu quando uma carreta de Cascavel (PR), carregada de açúcar, não obedeceu à ordem de reduzir a velocidade.
O veículo furou o bloqueio e avançou pela fila com 2 quilômetros de veículos parados, atingindo em cheio o espaço onde bombeiros, policiais, voluntários e repórteres trabalhavam.
Barbosa lavrou o flagrante do motorista e determinou que fosse levado sob custódia. Como não houve nenhuma tentativa de frenagem, segundo ele, não está descartada a hipótese de falha mecânica do veículo. Dezoito pessoas morreram no local - outras duas chegaram a ser socorridas em hospitais locais, onde morreram.
Além de falha mecânica, a PRF procura outros motivos para o segundo acidente. Não chovia na hora da colisão, a área estava bem sinalizada e a pista, recentemente recapeada, não apresentava problemas, naquele trecho. "Com certeza houve falha de alguém, no mínimo negligência", afirmou o policial rodoviário federal Antônio Gilmar Freitas.
O caminhoneiro Ferrari foi submetido a testes de sangue e urina para detectar a eventual presença de substâncias tóxicas mas o fato de trafegar por dois quilômetros em linha reta sem ziguezaguear, embora na contramão, indica que estava lúcido. Os policiais consideram plausível a tese de falha mecânica da carreta. Isso poderia ainda ser causado pelo excesso de peso. Mas a PRF informou que a inspeção prévia indicava peso dentro dos limites permitidos.
Segundo estudo feito no ano passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), com base em dados revisados recentemente pela PRF, um caminhão se acidenta a cada cinco minutos nas estradas federais.
A maior tragédia já registrada nas rodovias brasileiras aconteceu em julho de 1987, matando 68 pessoas,na BR-040, que liga Belo Horizonte ao Rio, próximo de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte. Um ônibus da Viação Transmuniz bateu contra um ônibus da Viação Transnazaré, que transportava romeiros vindos da festa de Santana, na cidade de Belo Vale (MG).
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